"Contestação" - Por Isabel A. Ferreira

Extraído do blog Arco de Almedina
http://arcodealmedina.blogs.sapo.pt/12716.html



    Prefaciado pelo Dr. Mendo Castro Henriques, Professor de Filosofia Política na Universidade Católica Portuguesa, Presidente do Instituto da Democracia Portuguesa e Biógrafo oficial e membro do conselho privado de S. A. R. D. Duarte Pio de Bragança; e de João Gomes, editor de política, da Chiado Editora (a minha editora), este livro contesta o modo como a história de D. João VI foi apresentada pelo jornalista brasileiro Laurentino Gomes, no seu livro «1808 – Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil», cuja narrativa amesquinha Portugal, a Monarquia Portuguesa e os Portugueses.


     Esta CONTESTAÇÃO pretende repor o período da História contada no livro «1808», e que é altamente desprestigiante para Portugal e para os Portugueses, essencialmente para D. João VI, que apesar de não ter sido “talhado” para reinar, reinou o melhor que pôde, conservando a dinastia de Bragança e o império português, com dignidade, não se vergando ao grande e poderoso Napoleão Bonaparte, que subjugou praticamente todos os monarcas europeus da época. Tento integrar as circunstâncias dos acontecimentos históricos apresentados no «1808», no contexto da época; analiso, sem preconceitos, as acções e consequências dos actos assinalados; e realço as virtudes da alma grande portuguesa.


      Para Laurentino Gomes, D. João VI era um rei covarde.

       Para mim (e para muitos historiadores), um rei corajoso, que deixou uma obra notável no Brasil.

    Ao ler-se o livro de Laurentino Gomes chega-se ao final com a ideia de que os Portugueses foram (e ainda são) Feios, Porcos, Maus e Ignorantes. Os factos que o Laurentino narrou, fora do seu contexto, soam a preconceito. Logo, defender a Honra e a História de Portugal foi um dever que se me impôs.


ÍNDICE

1 – DE COMO D. JOÃO, PRÍNCIPE REGENTE DE PORTUGAL, TEVE A CORAGEM DE NÃO SE VERGAR AOS PÉS DE NAPOLEÃO BONAPARTE

2 – DE COMO OS FACTOS HISTÓRICOS FORAM “DESVIADOS”

3 – DE COMO UM PEQUENO REINO SE FEZ IMPÉRIO, E DE COMO DETERMINADAS CIRCUNSTÂNCIAS FAZEM TODA A DIFERENÇA

4 – DE COMO A MÁ UTILIZAÇÃO DAS PALAVRAS PODE DISTORCER A REALIDADE

5 – DE COMO UM IMPÉRIO DITO DECADENTE CONSEGUE SOBREVIVER E IMPOR-SE ENTRE IMPÉRIOS PODEROSOS

6 – DE COMO SE DIZ QUE TUDO ESTAVA MAL NO REINO DE PORTUGAL SEM SE TEREM EM CONTA AS CIRCUNSTÂNCIAS

7 – DE COMO VIAJAR EM 1808 NÃO ERA PROPRIAMENTE CRUZAR OS MARES EM PAQUETES DE LUXO

8 – DE COMO A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL ENGRANDECEU O IMPÉRIO BRITÂNICO À CUSTA DA EXPLORAÇÃO DO TRABALHO ESCRAVO INFANTIL E DAS MULHERES

9 – DE COMO PODEMOS CONFIAR NUM REPÓRTER IMPROVISADO MAIS DO QUE EM FONTES FACCIOSAS

10 – DE COMO SE “FABRICAM” MONSTROS COM BASE NO PRECONCEITO

11 – DE COMO A INGLATERRA DEVE A UMA RAINHA PORTUGUESA O REQUINTADO COSTUME DO «FIVE O’CLOCK TEA»

12 – DE COMO A ESCRAVATURA FOI A NÓDOA NEGRA NA SEDA BRANCA DE TODOS OS POVOS COLONIZADORES

13 – DE COMO NÃO PODE HAVER REQUINTE LONGE DA CIVILIZAÇÃO

14 – DE COMO PORTUGAL NÃO PERDEU A HONRA NEM ESTEVE NUNCA ABANDONADO

15 – DE COMO D. JOÃO VI NÃO SE LIVROU DE SER HUMILHADO

16 – DE COMO OS BRASILEIROS DEVERIAM ORGULHAR-SE DAS SUAS ORIGENS

ESCLARECIMENTO




Prefácio ao livro “Contestação”

   Temos por certo que o estudo e a interpretação da nossa história, são duas tarefas fundamentais para a nossa definição enquanto povo e, mais do que isso, para a nossa afirmação actual enquanto país. Com identidade, o que é próprio de qualquer nação, mas acima de tudo com uma história riquíssima, do que nem todas se podem gabar.

   Gabamos, no entanto, o trabalho de investigação de Laurentino Gomes que trouxe a público a importância da transferência da Corte para o Brasil, evento cujo Bicentenário comemoramos em 2008. Reconhecemos o Brasil como um país amigo e os brasileiros como um povo irmão onde João Ubaldo Ribeiro acaba de ganhar o Prémio Camões. E vemos na língua portuguesa a marca distintiva da Lusoesfera, passo evolutivo da Lusofonia, numa época em que Portugal pode ter influência para além dos países de língua portuguesa. Exemplo disso são as recentes aproximações à Comunidade de Países de Língua Portuguesa por parte de Galiza, Croácia, Venezuela, Ucrânia, Guiné Equatorial, Marrocos e Ilhas Maurícias, povos e Estados que a história aproximou de Portugal.

    Como portugueses, temos um compromisso com a história, que nos leva a defender as aproximações à verdade e contestar os desvios da mesma. Por esse motivo, aceitámos prefaciar o livro da jornalista Isabel A. Ferreira. Assertivo e forte, patriótico e escrito com muita limpidez e, acima de tudo, um exemplo “de como Portugal tem o dever de defender a sua honra e a sua História”.

     O livro de Laurentino Gomes é interessantíssimo do ponto de vista hermenêutico porque acumula quase todos os erros possíveis ao interpretar figuras históricas: falta de contextualização, acumulação de informação não tratada, confusão nos critérios de relevância, teoria explicativa deficiente, etc., etc. Sabemos hoje que D. João VI, ao contrário do que Laurentino Gomes nos afirma, não era um monarca cobarde, tendo sido um dos únicos príncipes europeus que não se vergou perante Napoleão Bonaparte. Poucos reis, durante a nossa história, foram tão perseguidos por motivos pessoais, como D. João VI. Quer pela loucura de sua mãe, quer pelo seu casamento infeliz e as conspirações de sua mulher e de fidalgos visando a sua abdicação. E contudo, poucos reis, na nossa história, foram tão consistentemente vencedores nos projectos a que se abalançaram, de mãos dadas com o seu povo e dirigentes. A sua permanência por treze anos no Brasil, permitiu-lhe ser o governante que garantiu a unidade do Estado, a que o Povo Brasileiro justamente acrescentou a independência.

     Concluamos, pois, que a lenda negra que pairou sobre o monarca português que nos trouxe ao “Portugal Contemporâneo” é muito bem contestada neste livro, deixando à opinião dos leitores avaliar onde está a verdade. Por este motivo, elogiamos o trabalho de Isabel A. Ferreira. Que esta obra ajude a clarificar o legado de D. João VI, o monarca luso-brasileiro!


Mendo Henriques
João Gomes



NOTA INTRODUTÓRIA

     A presente crónica «De como Portugal tem o dever de defender a sua Honra e a sua História» nasceu da indignação de ver o meu país amesquinhado no livro, apesar de tudo, interessante, «1808 – Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil», da autoria do muito ilustre jornalista brasileiro Laurentino Gomes.

   Uma vez mais, Portugal e os Portugueses foram expostos ao ridículo, publicamente. Recentemente, na série televisiva «Os Tudors», apresentada num canal de televisão estatal, a corte portuguesa foi retratada com enorme desprestígio e leviandade. Há bem pouco tempo, e a propósito do caso do desaparecimento de Madeleine McCann, no Algarve, Portugal foi extremamente enxovalhado pela imprensa britânica. Isto apenas para falar de casos mais recentes.

     Basta!

    Portugal é um país territorialmente pequeno, mas não deve deixar que o amesquinhem deste modo tão acintoso, porque a sua alma é grande. Um povo deve celebrar os valores do seu país mais do que gritar ao mundo as suas desvirtudes. Estas devem ser redimidas na intimidade da sua auto-estima.

     E porque tudo vale a pena quando a alma não é pequena (citando Fernando Pessoa), este é o meu contributo no sentido de resgatar o bom-nome de Portugal.

    Todos os povos têm virtudes e defeitos. Portugal não foge à regra. Contudo, o maior defeito do povo Português é o de não acreditar nas suas virtudes, e encolher-se perante os juízos menores que dele fazem os que desconhecem a grandeza do seu percurso histórico, e de como sempre conseguiu manter-se na corda bamba, sem nunca perder completamente o equilíbrio.

     E isso não é coisa pouca!
     São essas virtudes que pretendo realçar nesta crónica.

Isabel A. Ferreira

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